sábado, 19 de novembro de 2011

BENDITA MIOPIA


Sou míope desde os 11 anos de idade. Começou como uma grande dificuldade de ler o que a professora escrevia no quadro. Depois piorou, porque o grau foi aumentando à medida que eu ficava mais velha.

Com o passar dos anos, entendi que a miopia dos olhos refletia também uma miopia da alma, já que eu nunca enxergava as coisas do jeito que todo mundo via.

Mas hoje vejo que o fato de não enxergar bem os detalhes explica uma série de coisas.
Nunca entendi quando alguém comparava duas pessoas a partir da beleza. " Maria é mais feia que Joana”, “Lúcia é muito mais bonita que Rita". Porque pra mim, beleza não se compara. Nem diminui ou valoriza alguém diante de outrem.

Talvez a miopia tenha me forçado a enxergar além, por isso sempre coloquei meu foco no que realmente importa. Afinal, a verdadeira beleza a gente não vê, percebe.

Também nunca compreendi quando alguma mulher despeitada soltava em público “Nossa, Fulano é tão bonito, como pode namorar com Ciclana, já que ela é horrorosa?”. Nessas horas eu nunca ficava calada, porque eu sei a mágica que existe quando dois olhares enamorados se encontram, independente das características estéticas de seus portadores.

Talvez seja esse meu olhar míope também o responsável por uma insatisfação constante que me acompanha desde a infância. Mas deixo claro: não vejo isso como uma coisa ruim, já que é essa insatisfação que impulsiona o meu poder criativo. 

É ela que me faz buscar soluções quando ainda ninguém viu um problema. É o que me move a continuar desbravando caminhos onde muitas vezes o sol ainda nem chegou.

Pensando bem, acho que miopia combina bastante com poesia. E nem ligo se a minha ceratocone me impede de fazer a cirurgia que tiraria esse defeito da minha visão. Ou deveria dizer qualidade?